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Oradores

Depoimentos

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Nuno Serdoura dos Santos

Magistrado do Ministério Público

Licenciatura no ano de 1995 pela Universidade Portucalense, na área de Ciências Jurídicas Criminais.

Pós-graduação em Ciências Jurídico Empresariais pela Universidade Católica Portuguesa, concluída em Junho de 1999.

Ingresso no Centro de Estudos Judiciários em Setembro de 2000, sendo Magistrado do MP, actualmente colocado no DIAP Regional do Porto, especializado em criminalidade financeira, violenta e altamente organizada.

Foi Magistrado Formador do CEJ.

Membro do Grupo Técnico de Apoio ao Gabinete Ciber Crime da PGR e Ponto de Contacto na Comarca do Porto daquele Gabinete.

Teve várias formações Internacionais na área do CiberCrime, em Bucareste, Madrid e Florença.

Participou, na qualidade de orador, em várias conferências e acções de formação na área do Cibercrime, designadamente focando as áreas da ciber segurança, das criptomoedas, da Inteligência Artificial, e dos Drones.

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Fernando Zamith

Professor de Jornalismo na Faculdade de Letras da Universidade do Porto

Nasceu em Luanda, em 1964. Iniciou a formação académica na Escola Superior de Jornalismo, Porto, é licenciado em Comunicação Social e mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho, e doutorado em Informação e Comunicação em Plataformas Digitais pela Universidade do Porto. Entre 1988 e 2011, foi jornalista da agência Lusa, no Porto e em Maputo. É docente de Jornalismo na Universidade do Porto desde 2002. Entre 2014 e 2019, foi diretor do Departamento de Ciências da Comunicação e da Informação da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), onde é professor auxiliar. É membro da Direção da unidade de investigação CIC.Digital e do Conselho Consultivo do MIL – Media Innovation Labs da Universidade do Porto. É autor dos livros Vilar de Mouros: 35 anos de festivais (2003), Ciberjornalismo: As Potencialidades da Internet nos Sites Noticiosos Portugueses (2008) e A Contextualização no Ciberjornalismo (2013) e coorganizador do livro Ciberjornalismo, modelos de negócios e redes sociais (2012). É também coordenador do Observatório do Ciberjornalismo (ObCiber), coorganizador dos Congressos Internacionais de Ciberjornalismo e autor de dezenas de artigos científicos e capítulos de livros. Foi membro do Conselho de Representantes da FLUP (2017-18), coordenador científico da unidade de investigação CETAC.Media (2014-16) e fundador e coordenador geral do cibermeio JornalismoPortoNet (JPN) (2004-11).

José Pacheco Pereira

Presidente da Associação Cultural Ephemera

Depoimentos

Nasceu no Porto em 1949. Participou na luta contra a ditadura antes do 25 de Abril. Foi professor de vários graus de ensino. Foi deputado na Assembleia da República e no Parlamento Europeu e dirigente do PSD. Publicou mais de uma dezena de livros sobre história e política. Colabora regularmente na imprensa escrita, na rádio e na televisão. É autor do programa da TVI 24 “EPHEMERA” e foi autor do programa da SICN “Ponto Contraponto” e faz parte do painel do mais antigo debate político português, actualmente “A Circulatura do Quadrado” na TVI 24 e TSF, anteriormente a Quadratura do Círculo. É autor dos blogues Abrupto, Estudos sobre o Comunismo e Ephemera.
Dedica-se desde há muito à preservação de livros, periódicos, documentos e objectos ligados à memória da história contemporânea portuguesa. Criou e mantém o Arquivo / Biblioteca Ephemera, o maior arquivo privado português cuja gestão e tratamento estão agora entregues à Associação Cultural Ephemera de cuja direcção é presidente.

Pós-verdade ou pós de verdade? – os efeitos nefastos da desinformação no jornalismo e na democracia

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Será que vivemos mesmo na (ou numa?) era da (ou de?) pós-verdade? O que é a pós-verdade? Será que tal pode existir? É uma meia-verdade, um sucedâneo da verdade? O que é isso de ser ou estar depois da verdade? O que há para lá da verdade? E antes da verdade? Existiu alguma era da anteverdade ou da pré-verdade? E da verdade? Quando foi isso?

E como é que o jornalismo tolera e se relaciona com essa tal de pós-verdade? Deve denunciá-la? Deve combatê-la? Estaremos também numa era de pós-jornalismo e de pós-democracia?

Que efeitos está a ter a desinformação no jornalismo? E na democracia? Como deve o jornalismo lidar com a cada vez mais sofisticada e profissionalizada produção e disseminação de informação falsa ou manipulada?  E que responsabilidade tem a sociedade? Quem pode e deve travar a publicação das chamadas fake news? Como evitar que o excesso de informação se transforme em infodemia?

Mais do que questionar o conceito de pós-verdade, pretendemos refletir sobre o estado em que se encontra o jornalismo (em especial, o ciberjornalismo) nesta época (ou era, admitamos) de múltiplas convulsões que tanto o ameaçam. Partimos para este exercício num estado de “pré-verdade”, o estado em que o jornalista e o investigador devem estar antes de apurar os factos e encontrar a verdade.

Num indisfarçável jogo de palavras, defendemos aqui que, em paralelo com a discussão sobre as causas e os efeitos da alegada “pós-verdade”, devem-nos preocupar os “pós de verdade” a que grande parte do ciberjornalismo se reduziu. O jornalismo que se produz e/ou que se difunde na Internet contenta-se, demasiadas vezes, com muito pouco, com apenas algumas informações ou declarações soltas, que não são mais do que um pouquinho da verdade que devia transmitir.

E são inúmeras as práticas que conduzem a estes míseros “pós de verdade” que encontramos no ciberjornalismo atual. Destaquemos apenas algumas: a apressada publicação sem confirmação; a titulagem enganosa à caça de cliques (clickbait); o recurso injustificado (e abusivo) a fontes não identificadas; a reprodução acrítica de declarações (“pé-de-microfone”) sem questionamento, sem investigação e sem recurso ao contraditório; a publicação de informações descontextualizadas; o descarado copy/paste de notícias dos outros (rapinagem de conteúdos); a reprodução ipsis verbis de comunicados de imprensa; a publicação de “conteúdos patrocinados” ao lado de notícias.

É uma luta desigual. Os disseminadores de desinformação perceberam que as depauperadas redações do jornalismo profissional não têm capacidade de resposta. A sociedade tem de “acordar”. Só com apoio sério ao jornalismo sério será possível combater a desinformação. O jornalismo de qualidade é um pilar fundamental da democracia. A democracia está em risco!

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Fernando Zamith

Universidade do Porto

Do Spectrum ao Algoritmo

 

Sir Clive Sinclair.

Não é um nome familiar para a maior parte das pessoas, mas para mim, foi o responsável pela minha paixão por informática.

Foi o inventor do meu primeiro computador pessoal, o ZX81, e, depois desse, o computador pessoal que levou a capacidade de processamento (e os jogos), às massas, o largamente popular ZX Spectrum, em 1982.

Era uma actividade solitária; os tempos da rede estavam longe.

Para mim, a rede começou com o IRC (Internet Relay Chat), locais onde, por temas (ou canais), as pessoas que não se conheciam se iam juntando on line, sob identidades mais ou menos inventadas, com interesses comuns, formando comunidades.

A Internet veio mais tarde, primeiro tímida, com sites institucionais primeiro, e depois a blogosfera, local onde começaram as primeiras interacções mais pessoais.

Começaram igualmente as histórias dos vírus informáticos, das botnets, dos hackers, e depois dos phishings, dos ransomwares, das bitcoins.

Na história dos últimos 30 anos, há nomes familiares que se tornaram parte do mainstream e da cultura pop, que aprendemos a gostar e a odiar, sejam, o Steve Jobs, o Bill Gates, o Mark Zuckerberg.

Formaram-se gigantes da tecnologia como a Apple, a Microsoft, a Google, a IBM, o Instagram, a Cisco, a Oracle, a Intel, e, mais recentemente, a Tencent Chinesa, a Coreana Samsung, a Baidu Chinesa.

Todos estes, com maior ou menor contributo, com maior ou menor interesse comercial, permitiram-nos ter acesso fácil, instantâneo e gratuito a um grande repositório de informação e de entretenimento, ao alcance de um swipe de dedo, ao toque de um botão.

Esse crescimento da rede, que permitou acesso fácil à informação, não foi porém gratuito; a primeira vítima foram os jornais, que haviam passado para o on line, e foram canibalizados como fonte de noticia gratuita, pelo Facebook, Twitter e outros canais de informação em rede.

Tentaram em vão, com maior ou menor regulação das suas caixas de comentários nas noticias, reter junto de si os leitores, ou melhor, a comunidade, e as suas eternas discussões, com pouco ou nenhum sucesso. As receitas de publicidade e venda caíram a pique.

Depois, as vítimas foram os nossos dados pessoais: os nossos likes, as nossas publicações; o nosso aniversário, o nosso sexo, a nossa orientação sexual, os nossos amigos, os nossos números de telefone e os dos nossos amigos, as fotografias do nosso telemóvel, os programas de televisão que vemos nas nossas smart tvs, os cafés que fazemos na nossa máquina de café smart com o nosso telemóvel, as máquinas de roupas smart que temos em casa, o que temos no frigorifico smart, a qualidade do nosso ar no purificador smart, as nossas actividades físicas e dados de saúde do relógio smart, os km e o consumo do nosso carro medido pela app smart, enfim, tudo o que nos chama para ter uma vida mais fácil e é quase sempre gratuita.

O preço a pagar pela gratuitidade é a nossa privacidade.

O perigo é o uso da informação.

Se a nossa pesquisa por modelos de telefones novos no Google nos vai apresentar anúncios de modelos de telefones no Facebook achamos curioso, por vezes desconfiamos, mas é o malfadado algoritmo quem mais ordena.

Se o Facebook nos sugere amigos novos, lembremo-nos que acabamos de adicionar aos nossos contactos do telemóvel aquele colega de liceu que acabamos de encontrar no centro comercial e qu enão víamos há anos.

Daqueles nomes de que há pouco falava, há outros, menos conhecidos, mas bem mais sinistros: Cambridge Analytica é talvez o que mais me espanta, pela influência que teve na manipulação da informação no Brexit e nas eleições norte-americanas de 2016.

As redes sociais, e a tecnologia em geral, têm crescido nos últimos 20 anos quase sem regras, ou controle, seja elas em relação à privacidade dos nossos dados, ao monopólio que exercem, ou ao controlo da informação.

E mesmo quando invocam o auto controle, invocando um principio de liberdade de expressão e de negócio, esta redes, consciente ou inconscientemente, têm sido incapazes de moderar, limitar ou censurar milhões de posts, tanto mais que grande parte desse controle é feito pelo malfadado algoritmo e por inteligência artificial.

Apesar de algumas tentativas “deste lado do lago”, a informação dentro do mundo das democracias, circula livre, sem barreiras, universalmente, invocando-se sempre um princípio de liberdade de expressão.

Cabe em primeira linha aos cidadãos a protecção da informação e dos seus dados pessoais, mas cabe aos Governos o dialogo institucional com os gigantes da tecnologia e da informação, sob pena de que, se o não fizerem já, os dados serem irreparáveis.

De outra sorte, o crescimento da tecnologia, e sobretudo da inteligência artificial, coloca novos problemas de resolução de problemas, porque se deixa ao critério da automação a protecção da “verdade” da informação.

Sem querer invocar ou desculpar o comportamento pessoal de cada um na sua relação com estes sites, aplicações e demais, na medida em que estamos voluntariamente a ceder os nossos dados pessoais, tem havido passos, quer dos Governos, sobretudo europeus, quer das instituições europeias, para nos proteger de nós próprios.

É o caminho que creio que teremos de fazer.

 

Nuno Serdoura dos Santos

Procurador da República

Resumos 

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